O PAPEL DA PSICOLOGIA EM TEMPOS DE OBSCURIDADE POLÍTICA

Por Michele Pinheiro Oliveira

O comportamento político a muito tempo é investigado pela Psicologia. Desde o século XIX, encontramos teóricos que já se debruçavam sobre esse assunto, e contribuíram para o que hoje conhecemos como Psicologia Política. Ao longo de sua história no Brasil, a psicologia sempre mostrou sua força, no que tange as problematizações sociais e suas contribuições ativas em defesa da democracia. A política então, sempre foi território fértil no que diz respeito as críticas sociais e intersecções destas mesmas com os indivíduos dentro da clínica.

Vivemos em um período político extremamente antagônico as pautas que tanto defendemos. A constituição da política brasileira, e do fenômeno atual do “bolsonarismo”, nos levam a mais e mais questionamentos sobre a atuação da nossa classe na sociedade. A Psicologia Crítica parece se articular cada vez menos com as pautas mais emergentes, e se condicionar a associações pontuais com a social-democracia, de forma que ambas parecem estar inertes um em contexto político que é mais do que urgente.

Convido a reflexão todos os profissionais e estudantes da área, para que se perguntem: onde estão os nossos posicionamentos e políticas de enfrentamento em um governo em que a democracia, a igualdade social e a vida estão ameaçadas? A falta de união e da práxis crítica em nossa área, tem nos deixado cada vez mais distantes de potencializar uma transformação social que hoje se faz tão necessária.

O resultado das eleições não será suficiente para vencer os fenômenos sociais que combatemos, e tão pouco livra nossa culpa da falta de participação e posicionamento político durante tantos anos. Devemos de todas as formas lutar, para que abrir espaço para uma nova onda de transformação, para que o pensamento crítico não se perca em um simples post em rede social contra este governo, mas que se materialize na realidade de forma que algo seja feito.

Nossa história está sendo escrita. Uma história cheia de lutas e vitórias, mas também de muitas derrotas que viemos sofrendo pela não mobilização e enfrentamento. Nosso compromisso é de sermos agentes modificadores em uma sociedade adoecida, e pautada pelo obscurecimento da humanidade no sentido mais cruel. Que a nossa profissão seja instrumento de encorajamento, empoderamento, conscientização e mobilização! E que possamos de alguma forma, escrever essa nossa história de forma diferente.

REFERÊNCIAS

Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2013). A verdade é revolucionária: testemunhos e memórias de psicólogas e psicólogos sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.

HUR, D.U. (2012). Políticas da psicologia: histórias e práticas das associações profissionais (CRP e SPESP) de São Paulo, entre a ditadura e a redemocratização do país. Psicologia USP, 23(1), 69-90. https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100004.

LHULLIER, LA. (2008). A psicologia política e o uso da categoria “representações sociais” na pesquisa do comportamento político. In ZANELLA, AV., et al., org. Psicologia e práticas sociais [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. pp. 110-120. ISBN: 978-85-99662-87-8.