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TATUAGEM: UM ATO DE INSCRIÇÃO SIMBÓLICA NO CORPO.


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O corpo na nossa contemporaneidade se tornou um objeto e produto do consumo, manifestando desenfreadamente um imperativo de gozo para sociedade. O que antes, nos primórdios da psicanálise (com o estudo da histeria) era visto o sintoma como algo convertido ao corpo, hoje o sintoma foi tomando outra direção até que o próprio corpo se tornou o sintoma na sociedade. Cada cultura tem suas formas de gozo e sintoma, e nenhuma escapa da tirania das repreensões pulsionais e do adoecimento do sujeito. Entretanto, numa sociedade que cada vez mais há personalidades vazias em corpos homogêneos, o sujeito se vê tentando diferenciar da mesmice de uma massa aprisionada pelo estético e econômico. O sujeito contemporâneo quer ser reconhecido pela sua singularidade, historicidade e subjetivação, ao mesmo tempo que, quer expressar com o seu corpo as suas angústias e afetos quando lhe faltam a linguagem para nomear tais sensações.


O real do corpo vem sendo invisível, ignorado e optado pela transformação das cirurgias, plásticas, remédios, atividades físicas, anabolizantes, “body art”, e entre outros. Dentro dessas práticas, a tatuagem tem seu lugar inserido ao corpo e ganhando mais destaque na vida do ser humano. Na história e cultura, a tatuagem ocupou diversos lugares para sociedade. No Egito entre 4000 e 2000 AC., nos habitantes da Polinésia, Filipinas, Indonésia e os Maori da Nova Zelândia, as tatuagens eram formas de rituais ligados às práticas religiosas. No entanto, na Idade Média por influência da igreja católica, foi banida pela Europa por considerar um ato pagã, proibido e pecaminoso, como forma de marcar grupos e discriminando/segregando quem tem seu corpo marcado (isso até hoje, infelizmente).


De acordo com Macedo, Paravidini e Próchno (2014), independente do contexto ou cultura, a tatuagem tem ligações mais profundas com as vivências e experiências, dando alguma forma de expressão para o sujeito; ou seja, as marcas impressas ao corpo podem ser vistas como uma forma simbólica de subjetificação da linguagem (uma lembrança, um marco, um nome, um desejo, um afeto, etc). A tatuagem também pode representar a necessidade de o sujeito eternizar sua história em seu corpo, deixando-a visível para poder assumir ou torná-la mais suportável. Porém, outros estudos apontam que essas inscrições ao corpo, são formas de sanar o desamparo do sujeito por nunca encontrar o olhar desejado (a pulsão escópica que se realiza no olhar e que se dá no ver e no ser visto – objeto a), perdido na infância, e com isso, tenta mascarar e ao mesmo tempo representar, expressando de alguma forma em seu corpo. Como também, pode apontar para uma angústia em que a tatuagem aparece como marcas que tentam fazer borda para apaziguar momentaneamente, permitindo que o sujeito consiga encontrar um suporte para sua vida e avançar.


É importante ressaltar que cada sujeito lida com sua tatuagem de forma única (de identidade), seja para lidar com suas angústias, expressar seu desejo e afeto, ou como instrumento para endereçamento do olhar do Outro - já que o Eu só se forma, inevitavelmente, por meio da imagem do outro: é o outro que possui sua imagem, com a qual se revalidará e unificará o seu Eu. Sendo assim, as práticas de escuta devem ser voltadas para a posição de cada sujeito com relação as suas tatuagens, pois essas se apresentam como formas de linguagem do inconsciente e remete a constituição do Eu.


Ψα Samuel Vinicius;


REFERÊNCIA: MACEDO, Sybele; PARAVIDINI, João Luiz Leitão; PRÓCHNO, Caio César Souza Camargo. Corpo e marca: tatuagem como forma de subjetivação. Revista Subjetividades, v. 14, n. 1, p. 152-161, 2014.

 
 
 

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