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SOMOS TODOS NARCISOS? – INTRODUÇÃO AO NARCISISMO

Atualizado: 26 de mai. de 2020

Há uma diferença entre narcisismo e narcisistas, o primeiro se refere a um conceito pulsional e o segundo sobre as patologias narcísicas que irei abordar a diante. A princípio, seria necessário questionar algumas experiencias que fazemos no dia a dia, tais como: “Quantas fotos você tira em um dia?”, “Quantas publicações você faz por dia e para que elas servem?”, “O que representa aquela curtida na sua foto e o que eu sinto quando vejo muitas?”, “Quem eu amo ou deixo de amar?”, “Quanto você se ama?”

e por aí vai, uma infinitude de perguntas relacionadas a como nos envolvemos conosco e/ou com os outros.


O conceito de narcisismo em Freud


Freud resgata o mito de narciso para dar uma narrativa a um conceito novo de pulsão, na qual ele irá apresentar na análise do Presidente Schreber (1911) e depois em “Introdução ao narcisismo” (1914), como um estado normal da evolução libido, ou seja:


uma alocação da libido que denominamos narcisismo poderia apresentar-se de modo bem mais intenso e reivindicar um lugar no desenvolvimento sexual regular do ser humano” (FREUD, 1914/2010, p.10)

Para compreender a evolução do Narcisismo Freud estipula duas fases do narcisismo, (1) Narcisismo primário e (2) Narcisismo secundário:


O primeiro modo de satisfação da libido seria o autoerotismo, isto é, o prazer que um órgão retira de si mesmo; as pulsões parciais procuram, cada qual por si, sua satisfação no próprio corpo (NASIO, 1997, p.48)

O narcisismo primário, refere-se aos primeiros estágios do bebê onde não há a formação do EU/EGO, é as fontes do prazer é derivado de seu autoerotismo, “Seu dedo, suas caricias” e assim por diante... Os objetos por assim dizer é investida pelo seu próprio corpo, um relacionar-se consigo mesmo. Não muito diferente do se arrumar na frente do espelho por horas, não é mesmo?


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(Fonte: Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise – NASIO, 1997)



No gráfico produzido por Nasio (1997), observarmos que a pulsão/libido, retorna ao Eu em formação. Importante frisar que é nesse estágio primário, que os pais têm extrema importância na constituição do sujeito. A relação da Mãe e do Pai com o bebê, tem como um reencontro do narcisismo primário, é exposto no bebê todas os desejos que um dia os pais tiveram que renunciar.


Os pais são levados a atribuir à criança todas as perfeições — que um observador neutro nelas não encontraria — e a ocultar e esquecer todos os defeitos, algo que se relaciona, aliás, com a negação da sexualidade infantil.” (FREUD, 1914/2010, p.25)

É nesse estado de (re)encontro do narcisismo primário dos pais ao bebê, que ambos irão se relacionar e se constituir. Freud irá dizer a respeito do amor materno e paterno, como um desencontro do narcisismo primário dos pais e a renuncia do Filho-Ideal, encontra partida, o bebê vai se constituindo através das pequenas falhas do Ambiente, eis que após esse estágio de maturação psíquica, a evolução do narcisismo se desloca a um objeto.

A principio esse objeto refere-se o amor dos pais, o bebê irá perceber que ele não mais o Reizinho que ordena e coordena a casa, aos poucos o Mãe-Ambiente irá apresentar que ele necessita se relacionar com, para obter prazeres. A libido então se desloca para um objeto, o outro, o brinquedo, o cachorro e por assim em diante tudo que não se refere a si mesmo.

O narcisismo secundário, então corresponde ao investimento libidinal, que esta no Eu-Objeto, ele é conhecido como, narcisismo do Eu/Ego, por trata-se do retorno desse investimento, para o Eu/Ego.


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(Fonte: Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise – NASIO, 1997)


Agora retorno as perguntas que fiz no começo: : “Quantas fotos você tira em um dia?”, “Quantas publicações você faz por dia e para que elas servem?”, “O que representa aquela curtida na sua foto e o que eu sinto quando vejo muitas?”, “Quem eu amo ou deixo de amar?”, “Quanto você se ama?”.


A dificuldade teórica do conceito de narcisismo é justamente compreender que as pulsões sexuais e o eu — identificado com o objeto fantasiado — constituem duas partes de nós mesmos. O eu-pulsão sexual ama o eu-objeto." (NASIO, 1995, p.38)

A tecnologia com os novos algoritmos parece mesmo influenciar algo muito intimo em nos, trazendo sempre os conteúdos que nos interessa, dificultando um pouco de observamos o diferente, talvez seja por isso que a influencia da Cultura do Narcisismo.


Talvez sejamos todos Narcisos mesmos! Não é mesmo?


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Patologias narcísicas e o famoso Narcisista:

No que se refere as patologias narcísicas, podemos compreender como um fenômeno atual, que corresponde as novas formas de subjetivação. Além do quadro clínico exposto por Freud de PERVERSO, vamos começar por ordem cronológica.

O perverso, foi atribuído como uma das três estruturas clínicas da psicanalise de Freud, a estrutura perversa, é o antagonista do neurótico que recalca/reprime seu desejo e substitui pelo sintoma:


“Na perversão, o desejo aparece como vontade de gozo e o ato é viven-ciado como vitorioso triunfo isento de qualquer sentimento de culpa. O perver-so sabe o que quer e isto é a base da sua arrogância, já que está convencido de saber a verdade sobre o gozo. Desta forma, ele não está à mercê das apre-ensões, inibições, recriminações, auto-acusações e frustrações que angustiam o sujeito neurótico. Pelo contrário, o perverso não se penaliza e ainda vê o sofrimento do neurótico com desprezo. Para ele o neurótico é um indivíduo que não sabe o que quer, que não sabe gozar." (COUTINHO, 2004)

Esse é o verdadeiro perverso ou melhor dizendo o famoso narcisista, que podemos ver no dialogo do senso comum, esse é o oposto do neurótico, já mencionado com a fase de evolução “normal” da libido. Não há culpa, os contratos são muito bem definidos e o único beneficiário disso é somente ele. Não muito diferente dos nossos políticos não é mesmo? Mas toda essa autoconfiança, é só uma mascara que demonstra uma fraqueza muito primitiva, da própria constituição do sujeito.


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Já no que se refere as patologias narcísicas, compreende-se que é um fenômeno contemporâneo, derivado da cultura do narcisismo, no âmbito individual.


O que se torna característico nas patologias do narcisismo, não é a presença de um narcisismo muito elevado (embora isso possa acontecer com a presença da megalomania). Mas o ponto fundamental para compreender essas patologias é que o retorno da libido ao eu ocorre devido a uma desarticulação na unidade narcísica. Isto significa dizer que quando o ego sente-se intimidado pela possibilidade de uma interrupção no sentimento de “continuar a ser” e pela ameaça de aniquilação, o investimento libidinal desvia-se do mundo externo e fixa-se no eu numa tentativa de preservar a coesão egóica (KEGLER, 2006, p.28)

A contemporaneidade é marcada por um excesso narcísico que influência a subjetividade do sujeito. Tem como principal fonte de sofrimento os problemas de identidade, perde-se a essência de si, "não sei se sou eu ou se sou o outro", como se o Eu do sujeito precisasse ser o Eu que ele idealiza nas redes sociais e ao se deparar com a realidade, o sujeito se aproxima de uma profunda sensação de desintegração egoica, afim de evitar a quebra do espelho narcísico.

Aí entra a questão, será que somos tão distintos dos perversos? Se com a finalidade de defender o nosso Eu, menosprezados ou idealizamos o outro de maneira tão abrupta, que não podemos enxergar os sinais do outro? Se de um lado pedimos empatia e do outro queremos esse sujeito longe de nós e o atacamos, afinal algumas atitudes nossas (neuróticos) se assemelham tanto a estrutura do perverso... Talvez deveríamos observar mais nossas atitudes, frente ao outro antes de julgar e separar quem é o sujeito que somos e que temos ao nosso lado e quem é o sujeito que idealizamos tanto nós como o outro...

Segundo a teoria do narcisismo secundário mencionada acima, parece que nos relacionamos com o outro na medida em que ele supri o que nos falta...


Referências:

COUTINHO, Alberto Henrique Azeredo et al . Perversão: uma clínica possível.Reverso, Belo Horizonte , v. 26, n. 51, p. 19-27, dez. 2004 . Disponível em <uma clínica possível>. acessos em 10 jul. 2019.

FREUD, Sigmund; (1914). Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos. Companhia das Letras., 2010.

NASIO, J.-D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Zahar, 1995.

NASIO, Juan David. Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

KEGLER, Paula. As patologias do narcisismo e a clínica psicanalítica: novas configurações subjetivas na contemporaneidade. Monografia] Santa Maria (RS): Universidade Federal de Santa Maria, 2006

Ayrton Yuri Alves Souza

Discente pela Universidade nove de Julho. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em psicanálise, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, empatia, subjetividade, mal-estar político e alteridade. Atualmente é pesquisador orientando - Diversidade Humana e Comportamento Violento - Pesquisa e Intervenção - DivHum-PI.  Pesquisador Orientando - Iniciação cientifica - Universidade Nove de Julho: Sobre temática Identidade social de mediadores e conciliadores". Pesquisador do Núcleo de Filosofia Política e do Grupo de Pesquisa A Crise do Amadurecimento na Contemporaneidade, do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo /PUC-SP – LABÔ; Membro Fundador da Liga Acadêmica de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade Nove de Julho

 
 
 

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