RESENHA - AS CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE - DE SIGMUND FREUD
- ADILSON MARTINS DOS ANJOS
- 23 de mai. de 2022
- 5 min de leitura
ADILSON MARTINS DOS ANJOS
Título da resenha: Cinco Lições de Psicanálise – Autor: Sigmund Freud
Cinco Lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e Outros Trabalhos – Volume XI – Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Editora Imago
Data da publicação: 1910
Lugar da publicação: Leipzig e Viena
Numero de páginas: 36
Palavras-chave: Origens da Psicanálise, hipnose, etiologia das neuroses, Papel da sexualidade, cura de conversação, histeria, inconsciente, repressão, resistência, impulso sexual, complexos patogênicos, desejos reprimidos, associações livres, papel dos sonhos, atos falhos, sexualidade infantil, auto

erotismo, complexo do incesto, transferência
As Cinco Lições de psicanálise surgiram de cinco palestras ministradas por Sigmund Freud proferidas na sua língua materna, o alemão, na Universidade de Clark, Worcester, Massachusetts, em 1909, por ocasião do vigésimo ano de sua fundação.
Além de Freud, foram convidados seus principais discípulos, e é importante citá-los, posto que alguns deles foram citados durante o Seminário, a saber, Jung, Ferenczi, Ernest Jones e A. a. Brill. Além desses, Freud não deixa de citar seus mestres e inspiradores, a saber: Breuer e Charcot, bem como não deixou de recorrer à Mitologia, ao citar o Rei Édipo e ao famoso autor inglês Shakespeare e isso é muito significativo, porque desde o inicio da construção da Teoria psicanalítica, Freud sempre teve uma preocupação de dar uma perfil científico às suas descobertas e teve no convite do Diretor Dr. G. Stanley Hall, a oportunidade de levar suas novas descobertas ao novo mundo, apoiando-se, inclusive em estudos de um cientista norte americano, o Dr. Stanford Bell, para ilustrar que uma das bases da teoria psicanalítica, a sexualidade infantil, não era nova, pois o renomado professor norte americano já afirmara três anos, antes da publicação do Livro de Freud, “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade em sua obra Estudos Preliminares da Emoção e do Amor entre os Sexos (1902), que a “emoção do amor sexual... não aparece pela primeira vez no período da adolescência, como se tem pensado.”
Outro ponto importante a ser destacado é que esse seminário não foi escrito de antemão, mas foi devidamente colocado no papel por Freud apenas no mês seguinte, quando retornou a Viena e segundo informa o Dr. Jones, a versão impressa não fugia muito da exposição original.
Há destacar que, nesse seminário, como observado pelo próprio Freud, o público presente não era apenas de médicos, o que era muito representativo, já que, embora a psicanálise tenha nascido dentro da área médica, dela estava se apartando, para seguir, segundo Breuer, citado pro Freud, uma nota absolutamente original.
A grande contribuição de Freud ao proferir as palestras, foi conseguir de forma simples, fazer uma síntese da teoria psicanalítica, tomando o cuidado de traçar os conceitos até então descobertos, a partir das contribuições de Breuer e seu processo catártico, ou a cura de conversão (talking cure), com o caso Anna O. e por meio deste caso, falar da histeria. Freud é de uma honestidade ímpar ao não atribuir a si, mas ao Prof. Breuer, a descoberta da Psicanálise (processo semiológico e terapêutico).
Importante salientar que Freud em um nota de 1923 escreve que reviu esta declaração, se declarando inteiramente responsável pela psicanálise. Explica esse processo no texto "Contribuição à história do movimento psicanalítico" (1914). Na qual atribui a Breuer somente o método catártico e as contribuições pré-psicanalíticas.
A partir do estudo da histeria, Freud interessou-se pelo estudo do inconsciente e, a partir de sua estadia em Paris, pode conhecer o grande médico Charcot e seu processo de cura pela hipnose. Porém, Freud não se contentou com esse procedimento, por entender que a hipnose não dava conta de curar, de fato, as doenças psíquicas investigadas por Freud, pois para ele, era necessário trazer à consciência do doente as lembranças inconscientes e nessa busca, Freud conseguiu perceber que nesse processo, o doente oferece resistência, impedindo que o recalado venha à consciência, processo esse que ele deu o nome de repressão, e que esta evitava o desprazer, revelando-se desse modo, um meio de proteção da personalidade psíquica. Nasciam os conceitos de inconsciente (mundo das pulsões, do prazer a qualquer custo) e do consciente, onde imperava as repressões e resistências dos desejos advindos do inconsciente.
Freud abandonou a hipnose, porque para ele, esta recobre a resistência, deixando livre e acessível um determinado setor psíquico, em cujas fronteiras, porém, acumula as resistências, criando para o resto uma barreira instransponível.
E os conceitos vão surgindo naturalmente. Freud com seu jeito simples de falar transmitiu suas ideias, como por exemplo, ao falar da figura do analista, como mediador e pacificador, aquele que ajuda o doente a trazer a lume (ao consciente), o que jaz recalcado no inconsciente. Ao que estava recalcado e pode ser liberado, deu-se o nome de sintoma, que é protegido pelas forças defensivas do ego e em lugar de breve conflito, começa então um sofrimento interminável, daí o papel da análise e do analista para auxiliar o doente a tratar esses sintomas.
Na terceira lição Freud trata da questão que é muito cara à Psicanálise, as associações livres, uma vez que para desvendar todo o complexo recalcado, logo desordenado (abstruso), nada pode escapar ao analista, a partir da fala do analisando e para Freud tudo é importante, sejam os chistes, os atos falhos, os sonhos, sendo este uma estrada real para o acesso ao inconsciente e ele vai mais longe ao sugerir que para que alguém se torne um analista faz-se necessário saber interpretar os próprios sonhos, para com isso, saber interpretar os sonhos do paciente, já que os sonhos tem como papel primordial a realização dos desejos trazidos pelo dia do sonho.
Chega-se ao ponto fulcral dos ensinamentos freudianos, qual seja, que o inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais, de simbolismos que permeiam nosso pensamento, frutos muitas vezes de nossos mitos e lendas, com a observação de que não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas e só pelo estudo das ideias livremente associadas pelos pacientes, que poderá conduzir à consciência o material psíquico patogênico, dando fim ao sofrimento, produzido pelos sintomas de substituição.
A partir estudo dos complexos patogênicos e dos desejos recalcados dos neuróticos, Freud conduz à ideia da etiologia sexual das neuroses, que estas são estruturadas na infância e que a criança é dotada desde a tenra idade de libido, primeiramente pela figura do autoerotismo, através de determinadas partes do corpo, com as quais o infante experimenta sensações de prazer, e desenvolve em breves palavras as estruturas psíquicas, a partir da etiologia da sexualidade infantil, deixando bem claro que as neuroses são para a perversão o que o negativo é para o positivo, da mesma forma que traça a identificação da criança com os pais, tomando ambos os genitores e, particularmente um deles como objeto de seus desejos eróticos, e todas as consequências dessas escolhas objetais, trazendo à tona o famoso mito do Rei Édipo, bem como da peça “Hamlet” de Shakespeare, para falar do complexo de Édipo e do tabu da proibição do incesto.
Por fim, Freud trata da transferência entre paciente e analista, como verdadeiro veículo da ação terapêutica, agindo tanto mais fortemente quanto menos se pensa em sua existência.
Ora, se a repressão dos desejos torna o sujeito doente e se são os sintomas que o fazem sofrer, o tratamento psicanalítico coloca-se assim, como o melhor substituto do recalque fracassado, justamente em prol das aspirações mais altas e valiosas da civilização.
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