O Dinheiro na analise: Breve consideração sobre analise gratuita em tempos de COVID-19
- Larissa Cifarelli
- 29 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Foi observada nos últimos tempos uma grande oferta de atendimentos terapêuticos gratuitos em tempo de pandemia, em contrapartida houve uma grande quantidade de queixas levantadas por esses profissionais, algo que não se pontua apenas para o contexto atual. Em minha breve experiência em clinica desde o tempo de estágio pude observar que há uma maior desistência e resistência diante a esse processo terapêutico gratuito.
E então podemos nos questionar qual a relação do dinheiro para o processo psicanalítico?
Freud em seu texto de 1913 “O inicio do tratamento” expõe que o dinheiro é tratado pelos homens civilizados de modo semelhante a fatores sexuais, anteriormente em 1908 em seu trabalho sobre o “Caráter do erotismo anal” ele relaciona o dinheiro à analidade.
“... Sabemos que o interesse erótico original na defecação está destinado a extinguir-se em anos posteriores. Nessa ocasião aparece o interesse pelo dinheiro, que não existia na infância. Isso facilita a transferência da impulsão primitiva, que estava em processo de perder seu objetivo, para o nosso objetivo emergente” (Freud, 1908).Para Freud o dinheiro se relaciona ao “sujo” ao “imundo”, que ainda estão relacionados às formas arcaicas do pensamento. Dando então significado entre o apego e o dinheiro à defecação, a neurose então acompanhada da linguagem retoma a sua essência, devolvendo assim o sentido primitivo. O dinheiro na infância não tem relevância, então há uma transferência da impulsão primitiva.
Sobre o tratamento gratuito Freud (1913) explana que “O tratamento gratuito aumenta bastante as resistências do neurótico; nas mulheres jovens, por exemplo, a atenção que está contida na relação de transferência, nos homens jovens, a revolta contra o dever de gratidão, que provém do complexo paterno e se inclui entre os mais sérios obstáculos à ajuda médica. A ausência do efeito regulador proporcionado pelo pagamento ao médico se faz sentir bastante penosamente; toda a relação se afasta do mundo real; retira-se ao paciente um bom motivo para se empenhar pelo fim do tratamento (p.177)”.Podemos então refletir sobre o significado do dinheiro no decorrer da analise, observamos as resistências presentes no setting terapêutico, o compromisso com o processo deve ser psiquicamente elaborado dando noção ao sentido do dinheiro como fator colaborador a esse transcurso.
Apesar de conseguirmos verificar essa importância para o processo como forma de quebra de resistência, sentimos que a psicanalise acaba entrando em uma classe “elitizada”, onde se torna inacessível para os mais infortunados. A partir desta observação o analista pode buscar novas formas para a quebra dessas resistências, com estratégias que busquem o mesmo significado do dinheiro para o processo de analise. O importante nesse momento é fazer com que acesso chegue á população, para auxiliar no enfrentamento e obter uma melhora na qualidade de vida, prezando pela saúde mental da população em geral.
Bibliografia
FREUD, S. (1908). Caráter e erotismo anal. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1913). Sobre o início do tratamento. In: Obras Completas. Vol. X. São Paulo: Companhia das letras, 2010, p.163-192.
Sobre a Autora
Larissa de Araujo Cifarelli. Graduada em Psicologia pela Universidade Nove de Julho. Cursando extensão em O Suicídio e sua relação com o luto pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é membro na Liga Acadêmica de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade nove de Julho.
CRP: 06/157925 Rede social: face @psicocifarelli insta: @psi.larissacifarelli





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