O copo está meio vazio ou meio cheio? Sobre a não volta ao presencial
- LAPP
- 12 de jul. de 2022
- 3 min de leitura

Na semana passada, a Universidade IX de Julho liberou as matrículas para o segundo semestre de 2022, e, com grande surpresa, o corpo estudantil ficou frente a notícia da não volta ao presencial. As razões mencionadas foram o aumento dos casos de COVID-19, além do amparo da diretiva do MEC que permite a continuação do ensino telepresencial até Dezembro de 2022.
Razões que parecem mais uma maneira de esconder as motivações verdadeiras, já que a Anvisa liberou há tempo a possibilidade de encontros presenciais em lugares fechados, tanto que a maioria das outras universidades voltaram às aulas desde o início de 2022, e a própria UNINOVE está prestes a hospedar o VI Congresso Brasileiro de Psicologia, ou seja, receberá centenas, senão milhares de visitantes nos seus prédios em Novembro 2022.
O ciclo das emoções vividas foram de incredulidade, indignação, ansiedade, aflição, ao nos sentirmos desconsiderados e, ainda, uma sensação de impotência contra uma decisão que não espelha a vontade da maioria dos alunos, e pela qual, sequer, fomos formalmente consultados. Para agravar a situação, nos meses anteriores, ao perguntar informações sobre a volta ao presencial, a resposta constante foi “aguardem, aguardem, aguardem”, em vez de nos explicar a situação real da universidade.
Cabe uma reflexão sobre o tipo de comunicação que recebemos, é uma forma ideal de sustentar o relacionamento entre discentes e coordenação, manter-nos na escuridão sobre os direcionamentos do curso? Não seria mais construtivo dizer “estamos tentando as seguintes opções, mas tem essas diferentes dificuldades”, por exemplo? Essa falta de explicação gera um alto descontentamento, pois os alunos se sentem como se o único fator que importa é o lucro, e assim, surgem vários questionamentos sobre a ética da UNINOVE.
Pois voltamos à dicotomia desta universidade, que como toda universidade privada, tem o conflito intrínseco de ser uma instituição de ensino e ser uma empresa privada, e, portanto, voltada ao lucro. Onde está, então, o balanço entre ganância econômica e uma educação de qualidade?
No começo da pandemia, a UNINOVE foi rápida ao instaurar o modelo telepresencial, criando descontos nas mensalidades, que permitiram aos alunos continuar cursando com facilidade. Contudo, no final do primeiro semestre de 2020, a instituição demitiu um número elevado de professores, e, ao longo dos 4 semestres telepresenciais, as turmas foram juntadas, criando salas com 120+ alunos por professor/a. Isso criou várias situações de desconforto, com brigas entre alunos, mudanças nas avaliações, docentes extremamente sobrecarregados, e um alto número de pedidos de afastamento. Além disso, a parte que parece não ser considerada, são os sentimentos de ansiedade e depressão que os alunos sentem, por causa dos longos meses de isolamento, da impossibilidade de troca com os colegas que acaba gerando tensões, e isto influi diretamente na capacidade de aprendizagem, já que esses contextos afetam concentração, memória e capacidade de colaboração.
Entendemos que esse cenário se inscreve diretamente no sucateamento da educação, já que segue uma postura capitalista e neoliberal de oferecer um produto de menor qualidade com a visão de lucrar. Ainda, procurando dados sobre o CNPJ da UNINOVE, não se encontram as declarações dos últimos anos (a última data é de 2018), assim, impossibilitando uma crítica aprofundada, e a construção de novas possibilidades para a universidade e seus alunos.
Como estudantes de psicologia, enquanto vamos aprendendo sobre todas as desigualdades sócio-econômicas, sobre o fracasso vigente na educação, acabamos nos mesmos vivenciando a manutenção deste fazer hegemônico pela nossa própria universidade. Então, temos sim uma grande contradição.
Estamos vendo o copo meio vazio? Se ainda estamos aqui lutando para nos assegurar um ensino de qualidade, é porque acreditamos que a UNINOVE nos providencia com uma educação valiosa. Contudo, não podemos simplesmente fingir que esse modelo é adequado para um curso que visa preparar profissionais da saúde. O curso de psicologia é presencial, arriscar de consolidar o ensinamento a distância é extremamente perigoso, assim, a crítica precisa partir de nós para nós. E isso é possível justamente pela linda grade que nos permite de desenvolver um pensamento crítico aprofundado, com um olhar voltado para o social que, talvez, seja justamente o maior diferencial dessa universidade.
Não quis colocar referências de propósito, pois essa é uma carta do coração, e de esperança para nós, discentes e docentes, melhorarmos juntos a nossa experiência universitária.
Renovamos os votos com a UNINOVE com o desejo que os ensinamentos recebidos não fiquem só em palavras, mas que se tornem ações.
Com Amor,
Michela Ruta
Presidente da Liga Acadêmica de Psicanálise Psicopatologia
Universidade IX de Julho
Excelente texto e bastante oportuno! Me surpreende um dos comentários propondo a mudança de faculdade para os descontentes. Não concordo com esse comentário. Temos que lutar por direitos. A Faculdade precisa estar compromissada com a qualidade do ensino e não apenas visar o lucro. Há de considerar também os postos de emprego que foram extintos com o ensino à distância. Além da perda de qualidade do ensino no ambiente virtual, nítido o cansaço dos professores com a excessiva carga de trabalho. É preciso responsabilidade, pois o profissional de psicologia lida com vidas. A formação deficiente terá influência substancial na qualidade dos serviços à serem prestados. Os órgãos de fiscalização precisam fazer a sua parte também. Para concluir: Qual o posicionament…
Texto Perfeito! O curso que fazemos é para lidar com vidas,histórias, sentimentos, fragilidade...impossível ser telepresencial.
Com todo o respeito aos colegas: os alunos descontentes contam com a possibilidade de trocar de faculdade. Se o copo não te atende, sinta-se a vontade para transbordar em outro lugar.
O mais intrigante é o pessoal de medicina estar presencial normalmente e os demais cursos em telepresencial com a justificativa de Covid. Não faz muito sentido.🤔