top of page

A DIVISÃO DO “SER” HUMANO


ree

Historicamente a sociedade criou uma fábula onde divide o ser humano em duas metades: “homem” e “mulher” e impõe estereótípos que devem ser cumpridos por cada uma das partes que desejem ser aceitas por este meio e que claramente estimula a rivalidade entre ambos. O fato é que independente do sexo biológico, a primeira casa de todos é o ventre de uma mulher, o que leva a refletir quanto aos desatinos sofridos e desafios enfrentados especialmente pelo pequeno homem.

Násio (1999) relata que as pulsões sexuais pontuam o desenvolvimento da criança desde seu nascimento e culmina entre os três e cinco anos de idade, quando surge o complexo de Édipo, que marca o apego da criança àquele dos pais que é do sexo oposto ao dela e sua hostilidade para com o do mesmo sexo.

Em seu texto “Três ensaios sobre sexualidade”, Freud (1905) apresenta as fases das pulsões sexuais infantis que se distinguem conforme a dominância da área erógena, das quais aqui destaca-se a fase oral onde prevalece a boca; fase anal com dominância do ânus e a fase fálica com a primazia do falo, mas será dispensada maior atenção a fase oral e fálica.

A fase oral abrange os primeiros meses de vida, onde o bebê experimenta o prazer da sucção pela boca, em movimentos com alternância ritmada entre lábios e lingua. Nesta fase mais do que estabelecer o amor maternal, a criança também vivencia o amor objetal. O prazer oral nada tem haver com o prazer de alimentar-se, logo o objeto do prazer oral é o seio materno e, mais tarde, o próprio corpo, geralmente o polegar. Psicanaliticamente falando, ao observar uma criança que chupa o polegar com seu olhar sonhador deduz-se que ela está experimentando um intenso prazer sexual. O apego aos objetos reais são apegos a objetos fantasiados e esses objetos fantasiados representam o próprio eu. Assim o seio da mãe ou o polegar que a criança suga são, na verdade, um objeto fantasiado que ela acaricia, ou seja, ela mesma, seu próprio eu e aí identificamos um outro importante conceito da psicanálise, o narcisismo.

Na fase fálica, a criança descobre seus genitais e aqui os objetos reais são o clitóris, como fonte de excitação, para a menina e o pênis, como objeto dominante, para o menino, enquanto o objeto fantasiado é denominado falo. Cabe esclarecer que psicanaliticamente o falo não representa o órgão sexual peniano de fato, mas sim a fantasia e superestimação enquanto símbolo do poder que rodeia este órgão do qual as meninas são privadas e os meninos são possuidores.

Tradicionalmente por ser a figura materna a responsável por gestar a vida construiu-se a fantasia de que a mulher naturalmente é constituída pelo amor incondicional, pelo dom do cuidado, pelo instinto de proteção. De outro lado o homem é percebido socialmente como o viril, o bruto, o que não chora, o insensível, o provedor.


ree

Mas atualmente, ainda que muitos monstros rondem a necessária liberdade de expressão, já é possível reconhecer conflitos que seres humanos vivenciam consigo próprios e já é sabido que o amor materno não é inato, muitas mulheres não sentem este amor e quando sentem este amor é aprendido e construído de acordo com a história da maternidade de cada ser humano, e nem precisa ser incondicional, a ambivalência esta em todas as relações, não existe amor puro e não existe ódio puro, na mesma relação de amor existe ódio e hoje, inclusive na maternidade, já podemos reconhecer isso.

Penso que nas próximas décadas precisamos seguir desconstruindo certos paradigmas e fomentando maior colaboração ao invés de competição. Então fica a reflexão: se somos seres humanos vindos da mesma origem e se este amor é aprendido pela mulher, não pode ser aprendido também pelo homem?

ree

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BADINTER, E. XY sobre a identidade masculina, Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1993.

NASIO, J-D. O prazer de Ler Freud, Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1999.

FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1901-1905): edição standard brasileira, vol. VII, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1914-1916): edição standard brasileira, vol. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1923-1925): edição standard brasileira, vol. XIX, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

SOBRE A AUTORA:

Agnalda Carneiro é estudante de Psicologia na Faculdade Nove de Julho. Tem experiência em Psicologia Transpessoal com ênfase em subjetividade, inconsciente e espiritualidade. Possuí formação em PNL e Constelação Sistêmica pelo NDI 4 Tempos. Atua na área de Diversidade, Inclusão, Cidadania e Educação Corporativa. Atua como voluntária na equipe multidisciplinar do CER II Osasco para reabilitação de pessoas com deficiência fisica e intelectual. É membro da LAPP – Liga Acadêmica de Psicanálise e Psicopatologia, onde faz parte dos Grupos de Estudos sobre “Masculinidades”, “Diálogos sobre as Obras de Freud” e “Shakespeare e a Psicanálise” e, também, das Oficinas “Arteterapia e a Pisicanálise” e “Inconsciente Mod. I e II (Sonhos, contos de fadas e arteterapia)”.

 
 
 

3 comentários


Adilson Martins Dos Anjos
Adilson Martins Dos Anjos
10 de jul. de 2020

Agnalda parabéns pelo texto.

Necessário mesmo falar de amor e que os homens não tenham medo de amar.


Curtir

JRohr
JRohr
09 de jul. de 2020

Lindo.

Curtir

fabianalouro1
fabianalouro1
08 de jul. de 2020

Agnalda arrasou no texto! Parabéns!!!!

Curtir
  • facebook
  • instagram
  • youtube

©2020 por LAPP. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page